Passamos a noite em redes na cabana que encontramos. Foi uma das noites frias que já passei, por não ter roupas de frio, enrolei a toalha nas pernas e quase não preguei os olhos durante a noite, muita muriçoca e um clima de deserto que, a noite, faz esquecer que estamos em pleno Maranhão!
Claro que a noite mal dormida valerá a pena na manhã seguinte.
Acordamos as 6 da manhã e o visual compensaria semanas mal dormidas, se fosse esse o trade-off.
Esperamos a maré baixar para que pudéssemos iniciar o pedal, já que a areia estava ainda muito fofa quando acordamos. Fizemos alongamentos e os preparativos necessários para o pedal, como colocar a água que fervemos na noite anterior dentro das caramanholas. Em algumas misturamos a água com maltodextrina, aliás esse foi nosso café da manhã deste dia.
Pelas informações (suspeitas) que tínhamos, o pedal contornando os parque dos lençóis maranhenses, até atins, deveria durar cerca de 4 horas de pedal, logo pensávamos que iríamos chegar em atins no Dia 4, melhor ainda, planejamos almoçar em Atins, chegando lá por volta de 3 horas da tarde, doce ilusão. Caso não se concretizasse, tínhamos um pacote de macarrão reserva para o almoço.
A areia era difícil de pedalar, andávamos a 8 Km/h . Pedalamos 2 horas e 52 minutos entre as 9 da manhã e 1 hora da tarde (descontados as paradas para descansar). Foram 23 km que valeram 50. Pela primeira vez na viagem minha perna se tornou bicolor.
Não sabíamos qual a distancia total, por volta de 1 hora da tarde estava completamente exausto, e foi a única vez durante toda a viagem que um de nós dois disse que não aguentava mais (no caso eu).
Eu: Felipão, não tô aguentando mais camarada, vamo descansar...
Ele: Vamo lá, só mais 10 minutinhos...
(3 minutos depois eu atinge um ponto de cansaço inédito, daqueles em que realmente não é possível dar mais um passo, ou pedalada, que agora já se confundem, e falei com o felipão: "Não aguento mais, vamos descansar", desci da bike e me atirei no chão da praia!)
Cheguei a dormir meia hora entre 1 da tarde e 1 e meia no sol de rachar! Felipe também dormiu, até sonhamos (provavelmente com sombra...) !!!
Depois do sono pedalamos um pouco mais e encontramos pescadores que nos informaram que havíamos percorrido aproximadamente 1/3 do caminho (isso deduzimos, naturalmente).
(Nossos 4 herois, preparando o cozido - "Prepara logo esse cozido, os homi tão com fome", um dizia ao outro)
Os pescadores não sabiam quantos Km faltavam para travosa, então perguntamos a eles:
Mas do ponto em que estamos qual está mais próximo: Travosa (de onde partimos) ou Atins. E não tiveram dúvida em dizer que foi atins. Felipão tentou aumentar nosso grau de informação: "Se daqui até Trovosa for igual a 1, daqui até atins é igual a quanto ?" Queríamos, afinal, saber quantos km faltavam e sabíamos que tinhamos andado quase 30 km já... Naturalmente não compreenderam a regra de três que felipe lhes propunha.
Nos propuseram que acampassemos próximo à cabana deles e que no dia seguinte os seguíssemos até o vilarejo onde moravam, no interior do parque dos lençóis. De lá poderíamos pegar uma Toyota para Barreirinhas, então achamos uma ideia interessante e topamos.
(Arrumamos nossa barraca onde eu me encontro localizado, bem ao lado da barraca deles, com a esperança que esse motinha de areia cortasse o vento à noite... ahhhhh tá! )
Enquanto arrumamos nossa barraca eles foram pescar e voltaram com grandes oferendas do mar,
certo é que nunca comi tanto peixe na minha vida quanto aquele dia. Foi uma troca de experiências muito legal que tivemos com nossos 4 novos amigos, que também tinham bicicletas. Nos disseram que o dia seguinte seria bravo, pois pedalaríamos atravessando as dunas, subindo e descendo!!! Não sabíamos que isso era possível, mas nos disseram que nessa época do ano (de chuvas) a areia fica mais dura e se torna possível pedalar em boa parte delas, embora seja necessário constantemente descer e empurrar a bicicleta.
Ficamos felizes com a rota de fuga que havíamos arrumado, e fomos dormir cedo e descansar as pernas para o próximo dia! A noite foi fria novamente, mas não tanto quanto a primeira, dado que agora estávamos dentro da barraca.
À noite, da praia, pudêmos ver de longe as luzes das cidades mais próximas. Vimos um clarão que representava Barreirinhas, um para Santo Amaro e outro para Atins. Pela distância das percebemos que havíamos acertado em abortar nossa missão e dormimos com uma rota de fuga para o dia seguinte.
(Felipe diz: "Você pode segurar minha bicicleta para eu tirar uma foto"
Pescador nº 3 responde que sim, mas sua cara deixa dúvidas sobre sua disposição...)