07/07/2010

Marx paz e amor.

Marx foi um pouco de tudo. Tô quase terminando de ler o volume um do capital. E após ler uma passagem resolvi entrar no blog para postar o parágrafo que acabei de ler e dizer um pouco o que eu acho do Marx:
A produção mecanizada encontra sua forma mais desenvolvida no sistema orgânico de máquinas-ferramenta combinadas que recebem todos os seus movimentos de um autômato central e que lhes são transmitidos por meio do mecanismo de transmissão. Surge, então, em lugar da máquina isolada, um monstro mecânico que enche edifícios inteiros e cuja força demoníaca se disfarça nos movimentos ritmados quase solenes de seus membros gigantescos e irrompe no turbilhão febril de seus inumeráveis órgãos de trabalho. (O capital, volume 1, capítulo 13)




Quando as pessoas leem o capital na faculdade ou elas viram um marxista convicto, e deixam a barba crescer para provar seu marxismo. Ou acham o livro um saco e não veem qualquer valor na obra. Ainda bem que eu aprendi o valor do meio termo com amigo meu, o Ari. Não vou discorrer sobre o livro, até porque estou fazendo o meu trabalho final sobre ele e falta ainda bastante coisa, mas é claro que é um clássico. Marx demonstra sua eloquencia e sua capacidade de ser técnico e lírico ao mesmo tempo. Nesta passagem que citei acho que ficou claro o lado lúdico de Marx ao qual me refiro. Não foi uma passagem escolhida a dedo, o capital contem tantas outras de valor igual ou ainda maior. Sugiro ao não estudante de economia que quiser conhecer Marx fazer um curso online de HPE (em inglês History of Economic Thought). No youtube é possível assistir a cursos de qualquer disciplina nas maiores faculdades americanas. Tudo de graça, e você assiste a todas as aulas com qualidade muito razoavel. Enfim, só uma dica, pois há cursos em TODAS as áreas, são chamados open courses.

05/07/2010

Copa Multiracial

E Lá se vai a copa da globalização. Belíssima copa que se aproxima do final e ainda reserva grandes emoções. Quem ganhará o título ? Falemos primeiro da multiracialidade da copa. 
Meu primeiro destaque é o zagueiro sul africano Matthew Booth.    
                                                 

Outro fato que marcou a copa foi o confronto dos Boateng. Irmãos se enfretaram nesse mundial, um pela seleção de gana, outro, naturalizado, defendendo a seleção alemã.



A seleção alemã, em síntese, é a expressão pura e simples da multiracialidade. Coincidentemente, ou não, é a favorita ao título do mundial. Se vencerá ou não, saberemos em uma semana. Mas além de Boateng, da foto acima, a seleção alemã é uma sopa de culturas. O meio campo habilidoso, Özil, tem origem Turca e declara versos do alcorão antes da partida, e não canta o hino alemão. Na reserva está Cacau, brasileiro, que canta o hino alemão quando joga, mas tem o Brasil marcado na pele. Finalmente a dupla de atacantes Podolski e Klose são poloneses naturalizados alemães. Na seleção alemã não importa quem canta ou não canta o hino, quem nasceu ou não nasceu na Alemanha, todos jogam com o espírito alemão, e são por isso favoritos ao título. Como dizia um amigo meu: "quando a Alemanha joga mal é vice campeã, jogando bem sempre ganha". Não está tão longe de ser verdade creio eu...
Ainda em 2006 jornalistas perguntaram com tom de desconfiança para Klose (o atacante matador que está apenas a 1 gol de distância do maior artilheiro da história das copas do mundo - Ronaldo):

- Afinal, você é polonês ou alemão ?
Klose respondeu:
- Sou atacante.






KENAKO

20/06/2010

Bola de Cristal

Um cara um dia me confessou que queria saber o que iria acontecer. Dizia estar cansado dos inúmeros imprevistos que o dobravam a cada esquina. Gostaria de seu futuro prever e por isso veio com essa ideia muito maluca: "Uma amiga dum amigo meu disse que o primo dela conhece um feiticeiro, topa ir comigo?"
"Me inclua fora dessa", respondi cético, não podia acredita em bolas de cristal e coisas do tipo, quanto mais me aventurar a ir em sua busca em um local ermo. De qualquer forma o tal mago da floresta realmente existia, e vendeu a meu amigo a tal bola capaz de mostrar o futuro. O mais absurdo dessa estória não é o fato de realmente existir um maluco no meio do nada vendendo pedaços de vidro que anunciam o porvir, pior que isso é que o artefato comprado pelo meu colega realmente funcionou, aliás, praticamente funcionou. Isso porque, por um lado, a bola de cristal realmente mostrava o futuro de forma precisa. Bastava uma olhadela na bola e o dia inteiro seria narrado detalhadamente. Meu amigo passou a saber exatamente o que iria acontecer, e é por isso que digo que o artefato praticamente funcionou. No início foi tudo festa, meu amigo me contava, eufórico, sobre o engarrafamento que deixara de pegar por olhar sua bola de cristal, sobre como era divertido ir ao estádio de futebol apenas nos dias de vitória, entre várias outras coisas, em suma passou a evitar um sem número de contratempos. Com o passar do tempo, todavia, passou a se sentir deprimido. Parou de se supreender, por mais incrível que fosse o que iria acontecer. E pôde finalmente perceber que a graça da vida é não saber. Ele tava sempre preparado, nada mais o deixava assustado. E ele queria voltar a não saber, porque o imprevisto maltrata, mas sua falta mata.
Transtornado, voltou a procurar o feiticeiro, tinha em mente devolver o produto (embora tivesse perdido a nota fiscal) e pedir seu dinheiro de volta. Quando chegou lá, todavia, o tal feiticeiro já havia se mandado para outra cidade. Se deu conta, enfim, que aquele feiticeiro era um golpista forasteiro.

14/06/2010

A Cartomante

Todo dia olho para frente, tento achar a direção,
mas tão logo me distraio, pego o violão
e começo alegremente a fazer o meu refrão.
A canção da minha vida, a canção da minha canção.

Eu viajo, pego ônibus, carona, bicicleta, vou até de trem.
Não me importo com os vizinhos, sempre quero ir mais longe, quero ir além.
Pedi para minha amiga cartomante me dizer se mais alguma coisa me iria acontecer, ela disse: "Meu amigo, calma nessa hora. Quem já sabe o fim do filme, logo vai embora"

Não pode ver fronteiras, nem ter medo de arranhão,
Quem da vida só deseja conhecer o coração.
Já vi ordem sem progresso, ordenado insucesso.
Melhor é viver a vida sem rima, ritmo e verso.


05/06/2010

O que há de comum entre Chaplin, Smith e minha vida...

Li um post interessante sobre o filme Tempos Modernos no blog Literatura e Diálogos da minha amiga Patrícia Castro e resolvi escrever sobre o assunto também.

O clássico Tempos Modernos de Charles Chaplin é um convite irresistível ao sorriso. O fato de ser uma comédia, todavia, não diminui a importância da mensagem que o filme transmite. Trata-se de uma análise sociológica, e Chaplin percebe os efeitos alienantes que decorrem da superespecialização que o capitalismo submete às classes mais baixas.
Adam Smith falou sobre os problemas advindos da alienação do trabalhador. Smith temia pela incapacidade desse trabalhador de pensar os problemas políticos da comunidade em que está inserido. A alienação teria como efeito incapacitar o ser humano de exercer plenamente sua cidadania. Essa desconfiança de Smith contrasta com a visão tradicional que atribui a esse pensador uma crença irrestrita na capacidade do mercado de se autorregular. Diz Smith, quando “toda a atenção de uma pessoa se concentra no décimo sétimo componente de um alfinete ou no oitavo componente de um botão (...) o trabalhador é incapaz (...) de compreender (...) a vinculação do interesse da sociedade ao seu próprio. Sua condição não lhe deixa tempo para receber a necessária informação, e sua educação e hábitos costumam ser tais que o tornam inapto para discernir, mesmo que esteja plenamente informado.” Com essa preocupação, Smith argumentará que o governo deve atuar na construção de escolas públicas, de forma que não é um defensor inquestionável do Laissez Faire. Identificando falhas do mercado que precisam ser consertadas pelo governo.




Quando o personagem do filme sai da fábrica e continua repetindo o mesmo movimento que vinha fazendo o dia todo na fábrica, Chaplin quer demonstrar que o ritmo do capitalismo está interiorizado na mente dos homens; não é apenas a forma de trabalhar que requer a eficiência de Ford, mas todas as ações humanas tornam-se um cálculo quase “fabril” de tempos e movimentos.
Somos produto de nosso tempo, e a logística de nossa vida é um eterno cálculo de maximização. Vejamos algumas evidências empíricas da proposição:
1)                          Hoje fui ao bebedouro e aproveitei para alongar a perna enquanto bebia água, para não perder tempo parado “apenas” bebendo água.
2)                          Quando entro na garagem de meu prédio, passo de carro pelo elevador antes de estacionar. Toda vez eu paro, estico o braço para fora do carro e chamo o elevador, para que este desça enquanto eu estaciono.
Sempre que temos a possibilidade de ganho de eficiência, por exemplo, fazer duas coisas ao mesmo tempo, sentimos grande prazer... Mas o limite entre o bom aproveitamento do tempo e ser uma pessoa “stressada” é tênue. Muitas vezes aceleramos demais certos compromissos e depois nos vemos entediados sem ter o que fazer.
Viver é uma arte, não um cálculo.

31/05/2010

Caro Joca,

Não é tão fácil entender
porque o raio que ilumina é diferente em você.
Ilumina a paz, a glória e a beleza de outros dias,
quando estava ao seu lado era feliz e sabia.

É tão simples para você
ser feliz, se olha para uma pedra uma flor vê.
Transforma uma lágrima num suco de muita risada,
é time, é firme, é forte, é o choro que dura nada.

Nós dois temos tanto em comum,
nas piadas mais infames, nos gestos incomuns,
se eu te amo eu me amo e eu me amo e amo tanto,
só consigo estar comigo se estiver com você.

Não é tão ruim não te ter,
quão mais longe nós estamos mais eu sinto você,
e percebo o tesouro que tenho em minha casa
e anseio a cada instante em voltar para você.

Mas a nossa hora vai chegar.
Os sinos do relógio se tocam que estão a demorar,
e dobram de muita risada, achando que de nós judiam,
mas não sabem que o que sinto agora é aquilo que mais queria.

18/05/2010

Analisando essa asneira hereditária

Fico pensando no conteúdo de algumas músicas populares...
Será que quanto mais imbecil maior o sucesso da canção ?
E os festivais tão impressionantes em que habitavam chico buarque e afins ?

É a era da cultura pop de massa, vazia, onda a rima substitui a lógica, vejamos um exemplo de circularidade na análise. Assumimos que um argumento apresenta circularidade quando ele não é capaz de fundamentar propriamente uma relação de causa e consequência e explica uma coisa a partir dela mesma. Vejamos um exemplo:

"Analisando essa cadeira hereditária quero me livrar dessa situação precária...
Onde o rico cada vez fica mais rico,
E o pobre cada vez fica mais pobre,
E o motivo todo mundo já conhece
É que o de cima sobe e o de baixo desce"

Sinceramente, qual a lógica da afirmação acima ??
Nenhuma, trata-se de uma análise circular.
É o mesmo que dizer que o motivo para que o pobre cada vez fique mais pobre é que o pobre fica cada vez mais pobre. E o inverso para o rico, que fica cada vez mais rico por ficar mais...  rico !

Em primeiro lugar não é verdade que a desigualdade tem aumentado, o governo lula tem um programa social muito forte que aumentou significativamente o salário mínimo e criou um programa social robusto. (criou não, ampliou o programa do FHC)

Mas essa discussão foge ao escopo do post...

Bom xi bom xi bom bom bom para todos !!

PS: Não tenho certeza do que isso quer dizer, mas tenho a impressão que é algo bom.

09/05/2010

Blues para meu vizinho

Tenho um vizinho que só sabe uma frase todo dia é assim.
Não importa o caso acho que o acaso só o faz repeitr.
O assunto pode ser política, religião.
Não importa sua raça, sexo e opinião.
Vai dizer:
Legal, cara.

Ele me liga e pergunta: e aí como é que foi seu dia ?
Eu conto que perdi o meu emprego e tô numa fria.
Então espero que me enrole com qualquer consolação.
Me diga: a vida é boa fique firme meu irmão!
Mas me diz:
Legal, cara.

19/04/2010

Rosa dos ventos

Rosa dos ventos
vem me guiar,
me ensine o caminho,
sozinho não sei andar.
Estou perdido,
e preciso de alguém
que ilumine minha trilha,
que termine o vai-vem.

Rosa da vida
traz o perfume,
cante uma música
que me deixe imune
de um vírus terrível
que é não saber amar,
rosa diga que fala
e que vai me ajudar.

Rosa da sorte,
se eu for tropeçar,
que caia num travesseiro
de pena de ganso
e à beira do mar.
Traga bons ventos
para me inspirar,
se eu der beijo num sapo
faça uma bela princesa virar.

Rosa da música
me coloque no tom,
traz cadências perfeitas,
faz da vida um fá.
De sol em sol
confie em si,
mi diz assim
que não vai dar ré
e tudo vai dar pé.

22/03/2010

Cabelos brancos

Fios de cabelos brancos
não encerrem a plenitude
de meus vinte poucos anos.

Todo dia no espelho
está marcado nosso encontro,
está presente em meu cabelo
e também em meu queixo, e me queixo:

Como pode a barba mal feita,
que nem cresce em toda parte,
ter então cabelos brancos?
ser então começo e fim?

Nessa pergunta volto a mim,
e me percebo por inteiro.
Sou, da vida, a metade
que não tem explicação.

A outra metade deixo
para os cientistas sem espelho.
Passam a vida estudando,
nas mesinhas debruçando,
sem, contudo, perceber
o clarear de seus anos.

19/03/2010

O dia que a guerra parou

Pela primeira vez, o clima em todo o planeta seria mesmo. Não mais haveria a neve em contraposição ao sol, nem o deserto de uns, nem a floresta dos outros. Os mais variados climas e vegetações, que diferenciam os países e dentro deles, dariam lugar a uma homogênea e generalizada sensação de pânico.
No princípio parecia apenas uma brincadeira de pessoas desocupadas e engenhosas, mas o tom crescente das ameaças, vindo de todos os lados e em todas as línguas, fazia nascer uma interrogação do México ao Japão. Vídeos brotavam na internet, a transmissão do programa favorito na televisão era subitamente interrompida, estava nos outdoors, em canções na rádio, nos teatros, e, principalmente, na boca do povo.
As ameaças atingiram os quatro cantos da terra, até mesmo ilhas minúsculas que viviam ainda isoladas do suposto homem desenvolvido. Tão isoladas que não tinham até então um meio de se comunicar com o resto do mundo, isso é, praticavam um dialeto ainda desconhecido. Pesquisadores ligados à área da linguística foram enviados aos destinos mais remotos a fim de aprender estes dialetos, não pela potencial ajuda bélica dos arcos e flechas desses povoados, inúteis frente à nova ameaça, mas sim para descobrir se estes locais tão remotos também receberam sinais. A confirmação ratificou o que já era do senso comum àquela altura.
A movimentação de luzes fora do comum no céu anunciava o pior. Era verdade, os ETs invadiriam a terra.
Muito embora a questão da faixa de gaza ainda não estivesse decidida naquele ano de 2.100, ela passaria a ser um problema irrisório, isso porque se judeus e palestinos não se acertassem naquele momento seriam esmagados. E a questão da faixa de gaza passaria a ser disputada por marcianos, que diziam ser ali a terra prometida por Marcianés, e os jupterianos. Foi esse o primeiro encontro improvável na terra (união no oriente médio, quem diria?), e a questão da faixa de gaza tornou-se irrelevante diante da ameaça maior, dos ETs, que prometiam começar sua ação pela terra prometida.
Como os Estados Unidos nem a Europa foram ameaçados a princípio, não deram crédito. E mesmo o início das ofensivas dos ETs a destruir o Oriente Médio não criou grandes sobressaltos nos comandos militares dos países mais desenvolvidos.
Quando o primeiro disparo de laser atingiu a peruca branca do presidente americano, na casa de mesma cor, ficou cristalino que era realmente uma ameaça global, agora sim poderíamos ter certeza. Os ataques dos ETs eram tão coordenados que os humanos logo perceberam que a única forma de combatê-los seria a união de todo o planeta. O intercâmbio de tecnologia, informação, armas, técnicas de guerra, era a única forma de o mundo reagir, e assim o foi. Diante de forças nunca antes vistas, o planeta abriu mão de suas desavenças, os recursos foram todos colocados numa mesma conta e distribuídos por todo planeta em hospitais, reconstrução civil, escolas etc. Fazia mister uma língua única para os soldados das diversas nações que lutavam lado a lado nas frentes contra o mal. O mundo todo passou a falar o Esperanto. Língua da paz, destituída de qualquer identificação cultural, nacionalista. O que fez os homens perceberem que, no fundo, não são tão diferentes quanto imaginaram. E, todos juntos, puderam os homens expulsar os alienígenas.
Durante algum tempo o mundo viveu uma paz desconhecida até então. Estavam todos no esforço de reconstrução do planeta, que havia se transformado em grande campo de guerra.
A ideia que predominava agora era a distribuição justa dos recursos naturais e intelectuais. O homem passou a acreditar, pela primeira vez, que quanto mais equilibrada fosse a distribuição dos recursos, melhor seria a chance de os homens conseguirem combater outra invasão alienígena caso viesse a se repetir. Assim, durante alguns anos o mundo foi inteiramente reconstruído de forma equitativa, e o conhecimento deixou de ser propriedade, passou a ser desejável que qualquer técnica e conhecimento novos fossem espalhados a todos.
Com o passar dos anos, todavia, e a ausência de outras ameaças extraterrestres, os homens começaram a ficar impacientes: e se eles nunca mais viessem? E essa especulação, pouco a pouco, tornou-se uma realidade palpável. Os ETs pareciam coisa do passado, não haveriam de voltar. E com a convicção de que não mais seriam incomodados por presenças estrangeiras, os humanos puderam voltar a guerrear entre si em paz...

13/03/2010

Mais um dia

Outro belo dia a raiar,
mas que diferença isso faz?
Tivesse chovido,
flores não nascido,
permaneceria
jaz.

Passei a manhã a te escutar,
mas não digo:
pare por favor !!!
tivesse falado
sobre o meu talento,
deveria
acreditar ???

11/03/2010

Ave de uma só pena.

Voa a ave de uma só pena:
Não saber onde é seu lar.
Amanhã pode ser feliz, mas quanto isso vai durar?

Vai na asa do avião, pois não tem tempo a perder.
Meio mundo já examinou,
 mas nunca pensa em desistir.

Porque não foi assim que seu pai lhe ensinou:
“Enquanto houver o que esperar vale a pena seguir”.
E seguiu a missão que o seu lhe confiou.
Nunca soube por que deveria insistir.

Decidiu jogar tudo pro ar, o ensinamento não profetizou
Amanhã não terá amanhã.
Resolveu suicidar.

Vai sem asa pro avião,
para não poder se arrepender,
e a esperança morria ao tirar os pés do chão.

Mas aí, ao cair, começou a tremer.
E não foi de pavor, foi tremenda emoção
de cair sem parar com suas asas
que se pudesse desatar, teria motivos para recomeçar. 

10/03/2010

O curioso caso de Tio Toco

De repente eu vi a luz, não sei bem o que aconteceu. 
Foi assim... ao abrir os meus olhos, pelos quais não podia ver, 
a imagem embaralhada, só vultos avistava.
Parecia muito mais um filme antes visto na TV, 
só que a imagem não desenrolava, parecia retroceder.
O sol nascia a oeste e eu parecia me livrar da peste que antes me matou,
 não sei porque mas aqui estou.
Foi aí que alguém falou para mim,  não sei de onde veio mas dizia assim:
"Essa é outra chance para você, vê se dessa vez faz valer. 
Você não foi feliz, mas não foi por não merecer. 
Então tem outra chance de viver."
Essa estória termina para outra começar, que com certeza errado não vai dar.
Essa estória termina assim, no momento em que nasci.

Gu gu dá dá.

09/03/2010

Máscaras

Alguém me diz que não está a vestir
roupas que não te servem.
Que as cores a estação não determinou.
Que não é ilusão. Que não é frustração.
Que não é artista de cinema.
Só que a peça é sua vida.
O diretor não é você.
O roteirista tem mais de mil anos.
A audiência são todos.
Prontos para julgar.
E a propaganda não vende.

08/03/2010

Super Herói

Sem vertigem, mas sem subir.
Falando alto a sussurrar.
Assim todos somos super heróis.
Tem que fazer. Não adianta falar.

Sem fome, mas almoçou.
Falando magro a engordar.
Assim todos somos os campeões.
Tem que fazer. Não adianta falar.

03/03/2010

Crônica Patética

Hoje descubro que esse mundo, que por uma vida tentei compreender, está além de nosso alcance, pois mundo não é, mundos são. Tantos quanto são as vidas dos homens e mulheres que andam pra lá e pra cá, sem aspiração, até que encontrem um ao outro, e se deem por satisfeitos.
Pois o mundo, no fundo, é o conjunto das pessoas; dos casais e suas estórias. Das avós e avôs, e suas memórias. Dos filhos e filhas, e fantasias. Cada macaco no seu galho. Isso quer dizer, cada pessoa está encaixada em uma família, que, por sua vez, cabe a alguma camada social, com costumes, tradições, enfim, com alguma coerência.
Penso na mulher que apanha do marido, e busca consolo na Maria da Penha, que pena.
Mas isso é tão distante da minha realidade, minha crítica não tem contundência, não tem conteúdo, porque esse não é o meu mundo.
Meu mundo é essa escrivaninha, com livros, um laptop, cd's.
Ler Drummond e Pessoa, escutando Jobim, é o mundo que me encanta, mas é só meu mundinho.
Enquanto isso, nas ruas, a vida continua . E, lá fora, as balas continuam perdidas.
Prefiro a ciência de Science: "há fronteiras nos jardins da razão".

26/02/2010

Amor em conta gotas

Amor em conta gotas

Fui a um farmacêutico, não muito convencional, e lhe pedi desesperadamente um remédio:
- Doutor, você precisa me ajudar.
- É o coração?
- Doutor, como adivinhou?
- Seus olhos, inchados, logo anunciaram.
- Pois bem, qual a solução? Farei qualquer coisa.

A solução que me ofereceu, infelizmente, em nada me ajudaria, pelo menos com essa garota, causa de minha enfermidade.
Segundo me afirmou, o amor é um jogo, e se um dos dois não joga, o outro logo se cansa da brincadeira.
Receitou-me amor em conta gotas.
- Mas Doutor, como é que toma esse remédio?
- Não toma, dá.
- Ahhhh ! então devo dar este frasco para ela?
- Sim.
- E que gosto tem?
- Depende de quanto ela tomar.
- Então já sei; venho por trás devagar, agarro-a fechando-lhe os olhos e viro todo o frasco em sua boca de uma vez. Quando tiver bebido todo o frasco irá virar para trás, e, com olhar tenro apaixonado, outro beijo, quiçá mais quente que o primeiro. Certo doutor?
- Nada disso. Te disse que o remédio é amor em conta gotas. Sei como é difícil olhar aquela garota e não falar mil vezes o quanto é linda, mas, como disse, o amor é um jogo. E o único remédio é ir com calma, passo por passo, frase por frase. Te gosto, te adoro, te amo. Dia, mês, ano. Compreende?

Àquela altura percebi que não haveria mesmo solução para meu problema, sabia perfeitamente que ali estava por não ter usado o remédio conforme a bula. Não sei o que foi, alguma ilusão juvenil, pensei que seria diferente. Que poderia me abrir com ela, e que me compreenderia e se interessaria por mim... Se pelo menos seus olhos não fossem tão inebriantes, e seu olhar não me petrificasse, qual tal o da medusa, daria gota a gota o remédio para meu benzinho.
Mas, como a vida não é tão fácil, volto pra casa e me sento no sofá. Olho pro enorme frasco, que seria suficiente para anos de relacionamento. Tiro a tampa e bebo tudo de uma vez.
Esta noite me embriago.

25/02/2010

Viva a globalização !

Chego soberano ao bar do velho quase-caindo-aos-pedaços e estou pronto para oferecer ao jeca caquético o que há de mais moderno no campo da ergonomia segundo as pesquisas de especialistas do mais alto calibre. O 70 anos curvou 90 graus entre barriga e pernas para passar por baixo da bancada daquele bar, que, como a maioria, possui uma tábua de granito (ou similar) que liga as duas paredes laterais não sobrando opção ao funcionário a não ser curvar-se cada vez que precisa buscar uma cerveja do outro lado do balcão. Imaginei que o velho simplesmente herdara por mimetismo o estilo seja-ginasta-e-passe-por-baixo-da-bancada e não se dera conta que é incômodo para suas preciosas vértebras continuar o que vem fazendo há décadas. Assim, com todo respeito que encontrei, pronunciei aquilo que parecia uma observação idiota, mas, no mínimo, me daria a satisfação de ajudar o sujeito senil:
"Por que você não corta um pedaço do mármore para não precisar se abaixar dessa maneira tão desconfortável ?"
Ao sugerir o óbvio tinha a sensação de que os esforços dos centros de pesquisa de ponta acabavam por chegar aos quatro cantos do mundo (ainda que com alguma defasagem) graças ao que chamamos globalização.
Naquele dia nós nos ensinamos mutuamente. Eu com minha dica sobre cuidados com o dorso. Ele com uma resposta que francamente não entendi bem, não só pela carência de dentes na boca do dito cujo, mas também pelo sentido da frase:
"Você gosta é de moleza, né ??? "

Pororoca

O rio virou mar, ou foi pro.
Seja causa ou consequencia,
a pergunta ou a sentença,
eu me perco em reticências.

Não sei se nasci ou dei origem a meu pai,
e isso porque, como só poderia ser,
não sei mais se o tempo é unidirecional.

Quando era criança parecia viver melhor.
Então o que foi que aprendi ?
Aprendi, mas sempre esqueço,
que há sempre um recomeço,
por lembrar depois ter fim.

19/02/2010

Diga espelho meu

As nuvens se reúnem
e mudam de cor.
Ao som do primeiro tambor
cai o carnaval em Olinda.

A tantos outros
tanto brilha o sol !

Termina a reunião,
tudo ficou decidido.
Aquelas pesadas, choraram.
Outras, tão leves, riram.

Os raios cortam minha pele,
mas não iluminam o coração.
Será a cachaça, desgraça, de Chico,
minha única salvação?

Desço a ladeira
sobe a canseira
ela mora, dentro, em mim.

Olho para o lado
o frevo é todo mundo.
A alegria me invade
por quase um segundo.

Pedro Paulo

Pedro diz que Paulo é o tal.
Mas quem é Pedro?
Pedro é o maior mentiroso da cidade,
diz Paulo.

Paulo deve ter razão,
se é mesmo o tal,
mas aí vem o círculo vicioso
e fujo da capital.

O estado é o das dúvidas,
faz fronteira com meu ser.
Pego a estrada noite toda,
enquanto a roda perecer.

Mas toda curva é Pedro.
Toda reta é Paulo.
Olho o espelho,
me sinto mais calmo.

Sei que vou voltar,
mas não sei a hora,
porque questionar
é a minha aurora.

07/02/2010

Ímã

E pensar que fui àquela festa por acaso.
Apesar de ser a festa de um amigo, não pretendia ir.
Era apenas mais um churrasco, sem nenhuma comemoração especial.
Acho que foi o vento que me levou. Levou mas nunca me trouxe de volta para onde morava, isso porque a noite foi ao mesmo tempo maravilhosa e trágica. Maravilhosa como sua irmã. Trágica como a saudade. Pode parecer estranho questionar um momento tão bom quanto aquele. À medida em que as pessoas iam dormir, mais perto me tornava de minha primeira (e talvez única) chance de falar a sós com ela.
Desde o começo da festa fui completamente absorvido por sua beleza inebriante e seu jeitinho que dá vontade de passar a vida inteira observando. Mas naquele momento, enfim, estávamos sós, e apesar de seu beijo que até hoje não desgrudou de minha boca, não posso dizer se foi bom ou ruim o que aconteceu. Se alguém te oferecesse a fruta mais doce do mundo, mas dissesse que só poderia experimentar, será que o prazer compensaria a vontade de repetir?
Se fosse sábio como Vinícius de Moraes, não estaria me perguntando se foi bom ou ruim. Diria que foi bom e ruim. Entenderia a tristeza não como oposto da alegria, mas como sinônimo da paixão, da saudade. Entenderia essa vontade de vê-la uma vez mais e pegar de volta aquela parte de mim que ficou para trás aquela noite, e que me deixou um vazio no peito.
Mas, se não sou Vinícius, apenas olho fixo sua foto.
E imagino...

02/02/2010

Abc da Volta

Aceite. Basta calar. Deixe ele falar grosseirias. Hoje isso jorrará lágrimas, mas negligencie. O prêmio que resta: salvar tua união, vosso zelo.

29/01/2010

Abc da Cristã

Ajoelhai beata cega. Deus é fiel ! Glorioso ! Homens, impuros. Jovens leigos menosprezam nocivamente o poder que remanesce sagrado. Tu (único verdadeiro) x zombarias.

28/01/2010

O homem é altruísta ou egoísta?

De férias, recluso no mato, anexo à minha mentalidade citadina, um episódio me remeteu à questão que dá título a esta crônica.
Fui a uma horta comprar um bocadinho de cidreira para o chá da tarde e pedi ao moço que me arranjasse quantidade suficiente para duas pessoas. Como a quantidade necessária era bastante modesta, o vendedor não quis me cobrar (o que descobri mais tarde através de minha amiga ser comum naquele vilarejo).
Não pude entender a transação. Seria incorreto aceitar sua mudinha sem dar nada em troca. Como não tinha nada além de dinheiro tratei logo de sacar o que carregava comigo, talvez 3 reais ou menos. Fiquei realmente impressionado dele não me cobrar ! E quis retribuir sua benevolência da única maneira que pude.
Se tivesse cobrado os 3 reais que acabei dando, eu acharia um absurdo. Me rejeitaria a comprar novamente deste homem que taxaria de ladrão ou pior.
.
.
.
O homem dança conforme a música, é ação e reação.

Metamorfose

A sua sensatez é insensata e eu
que quando olho no espelho não me vejo porque
o longo tempo que leva o raio que bate e rebate
é o bastante para eu me transformar.

Quero viver como rei, mas não quero ser um.
Ser artista de cinema e ser tão comum.
E ter certeza que meu status e alegria vem do meu coração,
E não dos olhos de alguém.
Se pudesse gritar para todo o mundo ouvir sussurraria, pois verdade não há.

Ser mineiro

Moro atrás das montanhas não dá pra espiar
Se existe verdade do lado de lá
Às vezes pergunto ao coração
Responde não
Vale a pena esperar ? Não sei
Já que o herói tem dublê
Pode a vida não ter
Razão

24/01/2010

O idiota

Me disseram que o grilo é verde pois com a grama foi criado
Que o espelho reflete mas se sente contrariado
Por não ser ninguém, por não ter identidade,
Mas se não é ninguém como percebe sua falsidade ?

Me disseram que se eu nadar no mar em linha reta eu vou
Até a África.
Outros dizem que não.
Não sei em quem acreditar.

Afinal o mundo é mesmo circular?
Ou uma tábua de passar?
É um castelo cheio de ouro?
Ou incertezas a vagar?

Já me chamaram de bobo, de burro,
de trouxa, de tolo, de inocente,
de tanta coisa...

Honey

Tell me you need honey, i'll be your bee
Tell me you need glasses, i'll be your see
Calm? Tea
Salt? Sea
Whatever it takes to please you
Whatever i'll try to be

Amor Platônico

No fundo do mundo
Nasce uma flor
E eu, no topo de tudo,
A vejo. Só não a entendo.

Como pode tudo ao meu lado
Tão perto do sol
Crescer tão devagar ?

Desço a ladeira
Abro mão de tudo que tenho
Pois já é hora de uma explicação

Mas à medida que desço
Menor se torna a flor que busco
E maiores as que deixei para trás

No fundo do mundo
Finalmente entendo
Que posso ver de longe a flor
Mas não sentir seu perfume

Tarja Preta

Após seu habitual pileque, e o elemento surpresa tarja preta, Vilfredo encamimou-se a uma certa festa. Os primeiros 5 minutos foram bem, embora seus olhos vissem as imagens passar como aquela opção do windows que deixa o rastro do mouse ("display pointer trails"). Conseguiu reconhecer as 10 primeiras pessoas (pensava, todavia, não serem todos gêmeos) e, na maioria dos casos, trocou meias palavras sem grandes sobressaltos. Foi a troca de olhares com um sujeito que pensava não conhecer que mudara a sorte de sua noite. Apesar de frente a frente com a figura, não a podia ver com clareza, mas sabia, definitivamente, que o encarava sem pestanejar. Perguntou insisitentemente, tom crescente, qual o problema. Mas não obtia resposta, apenas chamava a atenção da recém-plateia. O final da estória não poderia ser outro, o dito cujo caiu no braço com a surpresa e o constrangimento. No dia seguinte acordou com curativos em seus braços cortados, mas não podia lembrar o motivo. Para piorar teve que ouvir a estória de seu companheiro de quarto nordestino, repentista, que lhe acompanhara à festa mas não teve tempo de evitar o infortúnio. Ao mesmo tempo que levava Vilfredo ao hospital, na noite anterior, preparava sua rima irônica para o dia seguinte. Não fosse o estado dos braços de Vilfredo teria certaente achatado um pouco mais a cabeça de seu amigo quando lhe contou o acontecimento:
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O nosso herói não resistiu,
À cabeça sua raiva subiu,
E espancou, forte e viril,
O espelho do canto

Hóspedes