Amor em conta gotas
Fui a um farmacêutico, não muito convencional, e lhe pedi desesperadamente um remédio:
Fui a um farmacêutico, não muito convencional, e lhe pedi desesperadamente um remédio:
- Doutor, você precisa me ajudar.
- É o coração?
- Doutor, como adivinhou?
- Seus olhos, inchados, logo anunciaram.
- Pois bem, qual a solução? Farei qualquer coisa.
A solução que me ofereceu, infelizmente, em nada me ajudaria, pelo menos com essa garota, causa de minha enfermidade.
Segundo me afirmou, o amor é um jogo, e se um dos dois não joga, o outro logo se cansa da brincadeira.
Receitou-me amor em conta gotas.
- Mas Doutor, como é que toma esse remédio?
- Não toma, dá.
- Ahhhh ! então devo dar este frasco para ela?
- Sim.
- E que gosto tem?
- Depende de quanto ela tomar.
- Então já sei; venho por trás devagar, agarro-a fechando-lhe os olhos e viro todo o frasco em sua boca de uma vez. Quando tiver bebido todo o frasco irá virar para trás, e, com olhar tenro apaixonado, outro beijo, quiçá mais quente que o primeiro. Certo doutor?
- Nada disso. Te disse que o remédio é amor em conta gotas. Sei como é difícil olhar aquela garota e não falar mil vezes o quanto é linda, mas, como disse, o amor é um jogo. E o único remédio é ir com calma, passo por passo, frase por frase. Te gosto, te adoro, te amo. Dia, mês, ano. Compreende?
Àquela altura percebi que não haveria mesmo solução para meu problema, sabia perfeitamente que ali estava por não ter usado o remédio conforme a bula. Não sei o que foi, alguma ilusão juvenil, pensei que seria diferente. Que poderia me abrir com ela, e que me compreenderia e se interessaria por mim... Se pelo menos seus olhos não fossem tão inebriantes, e seu olhar não me petrificasse, qual tal o da medusa, daria gota a gota o remédio para meu benzinho.
Mas, como a vida não é tão fácil, volto pra casa e me sento no sofá. Olho pro enorme frasco, que seria suficiente para anos de relacionamento. Tiro a tampa e bebo tudo de uma vez.
Esta noite me embriago.