05/06/2010

O que há de comum entre Chaplin, Smith e minha vida...

Li um post interessante sobre o filme Tempos Modernos no blog Literatura e Diálogos da minha amiga Patrícia Castro e resolvi escrever sobre o assunto também.

O clássico Tempos Modernos de Charles Chaplin é um convite irresistível ao sorriso. O fato de ser uma comédia, todavia, não diminui a importância da mensagem que o filme transmite. Trata-se de uma análise sociológica, e Chaplin percebe os efeitos alienantes que decorrem da superespecialização que o capitalismo submete às classes mais baixas.
Adam Smith falou sobre os problemas advindos da alienação do trabalhador. Smith temia pela incapacidade desse trabalhador de pensar os problemas políticos da comunidade em que está inserido. A alienação teria como efeito incapacitar o ser humano de exercer plenamente sua cidadania. Essa desconfiança de Smith contrasta com a visão tradicional que atribui a esse pensador uma crença irrestrita na capacidade do mercado de se autorregular. Diz Smith, quando “toda a atenção de uma pessoa se concentra no décimo sétimo componente de um alfinete ou no oitavo componente de um botão (...) o trabalhador é incapaz (...) de compreender (...) a vinculação do interesse da sociedade ao seu próprio. Sua condição não lhe deixa tempo para receber a necessária informação, e sua educação e hábitos costumam ser tais que o tornam inapto para discernir, mesmo que esteja plenamente informado.” Com essa preocupação, Smith argumentará que o governo deve atuar na construção de escolas públicas, de forma que não é um defensor inquestionável do Laissez Faire. Identificando falhas do mercado que precisam ser consertadas pelo governo.




Quando o personagem do filme sai da fábrica e continua repetindo o mesmo movimento que vinha fazendo o dia todo na fábrica, Chaplin quer demonstrar que o ritmo do capitalismo está interiorizado na mente dos homens; não é apenas a forma de trabalhar que requer a eficiência de Ford, mas todas as ações humanas tornam-se um cálculo quase “fabril” de tempos e movimentos.
Somos produto de nosso tempo, e a logística de nossa vida é um eterno cálculo de maximização. Vejamos algumas evidências empíricas da proposição:
1)                          Hoje fui ao bebedouro e aproveitei para alongar a perna enquanto bebia água, para não perder tempo parado “apenas” bebendo água.
2)                          Quando entro na garagem de meu prédio, passo de carro pelo elevador antes de estacionar. Toda vez eu paro, estico o braço para fora do carro e chamo o elevador, para que este desça enquanto eu estaciono.
Sempre que temos a possibilidade de ganho de eficiência, por exemplo, fazer duas coisas ao mesmo tempo, sentimos grande prazer... Mas o limite entre o bom aproveitamento do tempo e ser uma pessoa “stressada” é tênue. Muitas vezes aceleramos demais certos compromissos e depois nos vemos entediados sem ter o que fazer.
Viver é uma arte, não um cálculo.

8 comentários:

  1. o vento afaga
    o cabelo das velas
    que apaga
    Bom final de semana,
    Boas energias sempre!
    Mari

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  2. Oi tio Toco! Que bom saber com quem estou falando, hehehe, pois até então me comunicava com o "Hotel Crônica". Ah, e obrigada pela menção que fez sobre meu blog! Seu texto é muito pertinente e interessante, você abordou o tema mais profundamente, relacionando-o com Smith. Muito bom! Agora, isso de as pessoas estarem sempre correndo atrás do tempo, tentando fazer com que ele renda, está tão louco e o trânsito está ficando insuportavelmente perigoso. Grande abraço, querido amigo!

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  3. E muitas vezes aceleramos demais os compromissos, ficamos extressados e nos vemos atolados em tarefas desesperantes para míseras 24 horas.
    Viver é uma arte, nunca um cálculo, vai explicar isso a um professor de TGA, brincadeira, daria uma ótima aula, com direito a debate e discussão.

    Passei também pra indicar o blog bem legal, segue o link:

    http://sirdarkheart.blogspot.com/2010/06/cronicas-de-ponto-de-onibus.html


    Boa leitura!

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  4. Você soube passar bem o que o filme quis transmitir: a dominação do capitalismo sobre os trabalhadores, consequentemente, também sobre a sociedade. E tudo o que isso gera.. e ainda está gerando...
    Obrigada por visitar o blog, volte sempre por lá, será sempre bem-vindo :D Vou acompanhar teu blog também, gostei dos posts, vou lê-los com calma :D Ah, também vou te seguir.

    Beijocas

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  5. Aqui é outro nível...

    É isso aí Titi, mandando ver.

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  6. Oi Hotel Cronica,

    Passando para agradecer seus comentário em meu blog. Estou de volta e espero sua visita.

    Abraços

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  7. sinceramente???
    legal, cara...
    ta de casa nova? to de cara (nova).

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  8. É o capitalismo. Marx sempre foi contra a família, religião, ou qualquer coisa do tipo que "estocasse" trabalhadores. Pois os patamares mais altos do capitalismo limitam tanto a função quanto a mentalidade dos menos favorecidos, para que eles não possam se tornar uma ameaça ou concorrência.

    Quanto ao tédio... Realmente esse rítmo desenfreado acaba dando preguiça de viver.

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