Pela primeira vez, o clima em todo o planeta seria mesmo. Não mais haveria a neve em contraposição ao sol, nem o deserto de uns, nem a floresta dos outros. Os mais variados climas e vegetações, que diferenciam os países e dentro deles, dariam lugar a uma homogênea e generalizada sensação de pânico.
No princípio parecia apenas uma brincadeira de pessoas desocupadas e engenhosas, mas o tom crescente das ameaças, vindo de todos os lados e em todas as línguas, fazia nascer uma interrogação do México ao Japão. Vídeos brotavam na internet, a transmissão do programa favorito na televisão era subitamente interrompida, estava nos outdoors, em canções na rádio, nos teatros, e, principalmente, na boca do povo.
As ameaças atingiram os quatro cantos da terra, até mesmo ilhas minúsculas que viviam ainda isoladas do suposto homem desenvolvido. Tão isoladas que não tinham até então um meio de se comunicar com o resto do mundo, isso é, praticavam um dialeto ainda desconhecido. Pesquisadores ligados à área da linguística foram enviados aos destinos mais remotos a fim de aprender estes dialetos, não pela potencial ajuda bélica dos arcos e flechas desses povoados, inúteis frente à nova ameaça, mas sim para descobrir se estes locais tão remotos também receberam sinais. A confirmação ratificou o que já era do senso comum àquela altura.
A movimentação de luzes fora do comum no céu anunciava o pior. Era verdade, os ETs invadiriam a terra.
Muito embora a questão da faixa de gaza ainda não estivesse decidida naquele ano de 2.100, ela passaria a ser um problema irrisório, isso porque se judeus e palestinos não se acertassem naquele momento seriam esmagados. E a questão da faixa de gaza passaria a ser disputada por marcianos, que diziam ser ali a terra prometida por Marcianés, e os jupterianos. Foi esse o primeiro encontro improvável na terra (união no oriente médio, quem diria?), e a questão da faixa de gaza tornou-se irrelevante diante da ameaça maior, dos ETs, que prometiam começar sua ação pela terra prometida.
Como os Estados Unidos nem a Europa foram ameaçados a princípio, não deram crédito. E mesmo o início das ofensivas dos ETs a destruir o Oriente Médio não criou grandes sobressaltos nos comandos militares dos países mais desenvolvidos.
Quando o primeiro disparo de laser atingiu a peruca branca do presidente americano, na casa de mesma cor, ficou cristalino que era realmente uma ameaça global, agora sim poderíamos ter certeza. Os ataques dos ETs eram tão coordenados que os humanos logo perceberam que a única forma de combatê-los seria a união de todo o planeta. O intercâmbio de tecnologia, informação, armas, técnicas de guerra, era a única forma de o mundo reagir, e assim o foi. Diante de forças nunca antes vistas, o planeta abriu mão de suas desavenças, os recursos foram todos colocados numa mesma conta e distribuídos por todo planeta em hospitais, reconstrução civil, escolas etc. Fazia mister uma língua única para os soldados das diversas nações que lutavam lado a lado nas frentes contra o mal. O mundo todo passou a falar o Esperanto. Língua da paz, destituída de qualquer identificação cultural, nacionalista. O que fez os homens perceberem que, no fundo, não são tão diferentes quanto imaginaram. E, todos juntos, puderam os homens expulsar os alienígenas.
Durante algum tempo o mundo viveu uma paz desconhecida até então. Estavam todos no esforço de reconstrução do planeta, que havia se transformado em grande campo de guerra.
A ideia que predominava agora era a distribuição justa dos recursos naturais e intelectuais. O homem passou a acreditar, pela primeira vez, que quanto mais equilibrada fosse a distribuição dos recursos, melhor seria a chance de os homens conseguirem combater outra invasão alienígena caso viesse a se repetir. Assim, durante alguns anos o mundo foi inteiramente reconstruído de forma equitativa, e o conhecimento deixou de ser propriedade, passou a ser desejável que qualquer técnica e conhecimento novos fossem espalhados a todos.
Com o passar dos anos, todavia, e a ausência de outras ameaças extraterrestres, os homens começaram a ficar impacientes: e se eles nunca mais viessem? E essa especulação, pouco a pouco, tornou-se uma realidade palpável. Os ETs pareciam coisa do passado, não haveriam de voltar. E com a convicção de que não mais seriam incomodados por presenças estrangeiras, os humanos puderam voltar a guerrear entre si em paz...
Ah, a paz das guerras...
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